Santo Agostinho (354-430), bispo de Hippone (África do Norte) e doutor da Igreja
Sermão Guelferbytanus 16, 1
«Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que eu te amo»
Eis que o Senhor, depois da sua ressurreição, aparece de novo aos seus discípulos. Interroga o
apóstolo Pedro, obriga-o a confessar o seu amor, ele que por medo, o havia negado três vezes.
Cristo ressuscitou segundo a carne, e Pedro segundo o espírito. Como Cristo morreu sofrendo,
Pedro morre negando. O Senhor Cristo ressuscitou de entre os mortos, e ressuscitou Pedro
graças ao amor que este lhe tinha. Interrogou o amor daquele que se declarava agora
abertamente, e confiou-lhe o seu rebanho.
Por conseguinte, que é que Pedro trazia a Cristo pelo facto de O amar? Se Cristo te ama, o
benefício é para ti, não para Cristo. Se tu amas Cristo, o benefício é ainda para ti, não para ele.
Entretanto, o Senhor Cristo, querendo mostrar-nos como os homens devem provar que O
amam, revela-nos isso claramente: amando as suas ovelhas.
«Simão, filho de João, tu amas-me? – Amo-te – Apascenta as minhas ovelhas». E isso uma
vez, duas vezes, três vezes. Pedro não diz mais nada a não ser o seu amor. Amemo-nos pois uns aos outros e amaremos Cristo.
Sermões sobre S. João, 122, 2-4 ; 123, 5
"Apascenta as minhas ovelhas"
O Senhor pergunta a Pedro se ele o ama, coisa que já sabia; e pergunta-o, não uma vez mas
duas e mesmo três. E, de cada vez, Pedro responde que o ama; e, de cada vez, Jesus lhe confia
o cuidado de apascentar as suas ovelhas. À sua tripla renúncia responde aqui uma tripla
afirmação de amor. É preciso que a sua língua sirva o seu amor, tal como serviu o seu medo; é
preciso que a sua palavra dê testemunho de uma forma tão clara diante da vida como a que fez
diante da morte. É preciso que ele dê uma prova de amor ocupando-se do rebanho do Senhor,
tal como deu prova de temor renegando o Pastor.
Torna-se evidente que aqueles que se ocupam das ovelhas de Cristo, com a intenção de fazer
delas ovelhas suas mais do que de Cristo, têm para com elas um afecto maior do que o que
experimentam para com Cristo. É o desejo da glória, do poder e do proveito que os conduz e
não o amoroso desejo de obedecer, de socorrer e de agradar a Deus. Esta palavra três vezes
repetida por Cristo condena aqueles que fazem gemer o apóstolo Paulo quando os vê buscar
os seus interesses mais que os de Jesus Cristo (Fl 2,21). Com efeito, que significam estas
palavras: "Amas-me? Apascenta as minhas ovelhas"? É como se dissesse: Se me amas, não te
ocupes de ti mesmo mas das minhas ovelhas; olha-as não como tuas mas como minhas; nelas,
procura a minha glória e não a tua, o meu poder e não o teu, os meus interesses e não os teus...
Não nos preocupemos, pois, connosco mesmos; amemos o Senhor e, ocupando-nos das suas
ovelhas, procuremos o interesse do Senhor sem nos inquietarmos com o nosso.
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